Thursday, March 30, 2006

Em terras de Sua Majestade

Desta vez a viagem foi a Bristol, no Reino Unido. Devido à falta de voos directos para lá, a opção escolhida foi voar até Gatwick e apanhar um comboio (ou melhor, 2) até Bristol. Opção barata mas secante, que implicou acordar às 6 da manhã para chegar a Bristol por volta das 14h (parece uma viagem intercontinental), o que faz com que o meu humor esteja um pouco a bater no fundo.

Chegado a Gatwick (on time, this time) a primeira visão é a do típico clima britânico, o sol que fugiu, o tempo frio e escuro, só falta a chuva para ser perfeito. Mesmo com os 4 graus que marcavam os termómetros, é surpreendente a quantidade de raparigas de mini-saia e tops a pavonearem-se por todo o lado. Normalmente nao me queixaria de tal facto, o problema é que neste país 95% das gajas que usam esta indumentária pesam mais 20kg do que deviam!
A viagem de comboio permite observar alguns aspectos interessantes (e outros nem por isso) deste país. A paisagem sub-urbana a oeste de Londres é essencialmente rural, com prados verdes, planaltos e riachos. Pelo caminho vão aparecendo carvalhos que providenciam um aspecto tenebroso (bonito!) à paisagem. Esta paisagem é interrompida quando o comboio chega a alguma terrinha. À medida que terras como Redhill, Dorking, Guilford e outras vão ficando para trás, a idéia que fica é que são todas iguais. Se não fosse pelas placas a indicar os seus nomes, poderia fazer esta viagem 10x que não conseguiria distinguir um cu.

Isto é algo que eu sempre achei característico e estranho neste país: é tudo igual, desde as casas castanhas com o exterior a imitar tijoleira e os seus jardins ridiculos, passando pelas fábricas semi-abandonadas mostrando que o tempo da revolução industrial já passou há muito, até às lojas franchisadas e restaurantes indianos. A percepção para o turista é que existe Londres, Oxford, Bath e mais 1/2 duzia de sítios interessantes, o resto é um imenso suburbio...Com tanto tempo passado no comboio, tenho de descrevê-los: São uma porcaria! Apertados, sujos e lentos... e caros... Devido aos problemas que os ingleses têm com o terrorismo (desde os tempos do IRA), a maior parte dos sítios públicos (incluindo comboios e respectivas estações) quase não possuiem caixotes do lixo. Os comboios são assim um amontoado de garrafas de coca-cola, restos de sandes, embalagens de batata frita, entre outra lixarada díficil de identificar.Isso é outra coisa que não posso deixar de falar, da merda de comida que estes animais comem. Onde nós comemos uma sandes mista ou uma bifana, estes gajos comem sandes de frango com caril, bacon com ovo ou outras porcarias que sabem tão mal quanto cheiram. Aliás, as sandes e salgados à base de comida de inspiração monhé é o prato nacional. Alem de saberem mal e mal fazerem, o que mais me irritam é que cheiram mal pra caraças. Pra mim isto não passa de uma vingança do Gandhi e outros que durante séculos tentaram combater pacificamente a ocupação inglesa.Na pausa em Reading à espera do 2º comboio, e porque a barriga estava a dar horas, lá comprei uma de sandes de "smoked bacon, cheddar cheese e egg". Em terras de sua majestade, portai-vos como tal, é o lema.

Chegado a Bristol, a 1ª ideia que se tem é que a cidade é horrível. Depois de uma volta pela cidade a 2ª idéia que tive da cidade é que é mesmo horrível. Cansado de ter acordado tão cedo decidi ir dormir para o hotel em vez de continuar a massacrar a vista.

Acordei para jantar com um holandes que está cá pelos mesmos motivos que eu. Novamente a opção foi bastante britânica, ou seja, comida tandoori, ao que se seguiram 3 pints de Stella Artois. À noite a cidade pareceu-me mais atractiva, mas provavelmente foram as pints a falarem mais alto.

Perto da meia-noite lá me vou deitar. Nem liguei a TV para não ter de continuar a escrever este relato.

Bristol (UK), 21 de Março de 2006

Crónica de uma viagem a Madrid

Cheguei cedo ao aeroporto, cerca de 1h30 antes da partida do avião. Dirigi-me para a porta de embarque onde peguei no meu livro (de viagens do Bill Bryson, muito bom) e dei inicio ao meu ritual de controlar as gajas que vão no mesmo avião que eu, sonhando que poderia ser hoje que a melhor gaja do avião iria sentar-se ao pé de mim e me "obrigaria" a ter sexo com ela a 30000 pés. Não aconteceu, é pena, mas se ainda não perdi a esperança ao longo das cerca de 30 vezes que viajei de avião, também não a vou perder agora. Tb diga-se que hoje as probabilidades eram escassas, gajas podiam contar-se pelas unhas dos pés, e boas nem vê-las.

A maioria dos passageiros eram empresários tugas com esperança de conseguir vender as suas empresas falidas a alguma multinacional espanhola ou gestores espanhóis que vem 1 vez por semana ver como está a produtividade na sucursal portuguesa da sua empresa, ou aplicar um downsizing... Foi um espécime destes que se sentou ao meu lado. Menos mal. Ainda tinha bem presente na memória a viagem desde Genebra, bem como o sósia do Graciano Saga que se sentou ao meu lado, com as suas calças Wrangler 3nºs abaixo do tamanho ideal, o cabelinho a Maradona nos anos 80 e o intenso cheiro a Old Spice. Já para não falar que o sr. decidiu partilhar comigo e com metade do avião todos os toques poli-merdo-fónicos do seu telemóvel, incluindo alguns que me pareciam excertos de músicas do próprio Graciano Saga.

Chegado a Madrid Barajas e depois de caminhar os quase 10km que separavam a gate da saída do aeroporto, aproximei-me da praça de taxis onde constatei o chaço que me iria transportar, um Peugeot não-sei-o-num a cair de podre, dos que fazem inveja a qq Mercedes de Lx, daqueles com 20 anos e 1 bilião de kms. Pelo cheiro no interior tirei mais 2 elaçoes: que a lei anti-tabaco do sr. Zapatero é pra tuga ver, e que afinal não são só os franceses que não se banham.

Prosseguindo, viro-me para o taxista no meu belo espanhol e digo "Buenas noches, Hotel Foxa, 3 Cantos", ao que o sr. responde "hummmm, connosco a 3 Cantos, pero no al hotel. Pero no hay problema. Vamos!". Assustei-me, juro que me assustei, a última vez que estive em Madrid andei 15min perdido dentro de um taxi, com o mapa na mão a tentar indicar ao taxista onde era o hotel que ambos desconheciamos. Hoje as coisas correram um pouco melhor, mal saímos da autoestrada para 3 Cantos vi o néon a indicar o hotel. Que sensaçao de alívio, e acho q para o taxista tb...

Depois de jogar as malas para dentro do quarto de hotel (bastante luxuoso diga-se, parecia uma suíte de um palacio vitoriano), achei boa ideia ir comer qq coisa. Saí do hotel e descobri que estava no meio de nenhures e que bares não deviam existir num raio de vários kms. Fiquei-me pelo bar de hotel onde pedi uma sandes de salmão e uma caña de Mahou. Durante momentos ponderei no que o sabor daquela cerveja me fazia lembrar, mas mal vi exposta uma garrafa de Osborne e senti a bexiga cheia não precisei de pensar mais.

De volta ao quarto fiz um pequeno zapping na tv, onde pude (re)constatar a obsessão mórbida que os espanhois tem por programas de imprensa cor-de-rosa e por reality shows. O melhor que se pode dizer da TV espanhola é que nos dá a sensação de um estado de coma sem a preocupação e o incómodo.Assim termina um dia em viagem como tantos os outros...

Mas antes de terminar vou experimentar o jacuzzi instalado na casa-de-banho do quarto!!!

3 Cantos, 13 de Fevereiro de 2006