Sunday, January 20, 2008

Filmes de 2007

Como já vai sendo hábito, resolvi escolher os que foram para mim os melhores filmes de 2007. Para simplificar a coisa apenas escolhi filmes estreados nas salas de cinema portuguesas durante o ano de 2007, mesmo que eu os tenha visto antes...

A lista completa de filmes estreados em Portugal em 2007 está em:
http://www.cinema2000.pt/ficha.php3?id=10100&area=melhores

Desta lista vi 59, o que não está mal, e os meus 10 preferidos são:

10 - Livro Negro - Zwartboek
Uma história fascinante sobre os judeus holandeses durante a 2ª guerra mundial, adicionando um moralismo latente e mostrando a linha ténue entre traição e sobrevivência. Excelente argumento e boas interpretações de actores holandeses para mim desconhecidos.

9 - Rescue Dawn - Espírito Indomável
A velha história do prisioneiro de guerra americano no Vietname (ou no Laos neste caso), esta baseada em factos reais. Merece estar na lista pela interpretação magnífica de Christian Bale que mais uma vez perde 30kg para fazer um filme e encarna na perfeição o Dieter Dengler.

8 - Planeta Terror
Em oposição à generalidade das pessoas, preferi os zombies do Rodriguez às power girls do Tarantino, que me pareceu um pouco longo demais. Divertimento puro do início ao fim, com cenas hilariantes.

7 - O Labirinto de Fauno
A imaginação de uma criança no tempo da guerra civil espanhola é o argumento para um filme que tem tanto de fantástico e sobrenatural como de assustadoramente humano. Com uma imagem e efeitos especiais soberbos é o filme de fantasia que nem todos os harry potters e afins juntos alguma vez conseguirão ser

6 - The Fountain - O Último Capítulo
Odisseia sobre a luta desesperada de um homem para salvar a sua mulher. Passada em 3 épocas diferentes (séc. XVI, época actual e séc XXVI), as histórias convergem numa excelente análise sobre o amor, a vida e a morte. Excelentes interpretações tanto do Hugh Jackman como da Rachel Weisz

5 - Sunshine - Missão Solar
Uma mistura de 2001 com Aliens, sobre um conjunto de astronautas que necessitam de ir "reacender" o sol, mas cuja missão começa a correr mal quando se descobre que algo estranho se encontra a bordo. Efeitos especiais assombrosos, uma capacidade fantástica de transmitir para o espectador toda a claustrofobia da nave espacial, um argumento excelente sobre a "guerra" entre ciência e religião e personagens multi-dimensionais fazem deste (pelo menos para mim) um dos melhores filmes de ficção científica dos últimos anos.

4 - Pecados Íntimos - Little Children
Filme tipo "A Beleza Americana" mas mais sério e adulto. As relações entre 4 personagens totalmente banais, toda a moral ligada ao pecado e uma certa infantilidade dessas personagens criam um retrato sociológico da classe média mas sem entrar nos clichés do costume. Uma história perturbadora e que não deixa ninguém indiferente.

3- Zodiac
David Fincher volta a realizar um filme excelente. Reconstituição histórica de um dos mais célebres serial killers americanos, foca-se principalmente na obsessão de 3 homens que ao longo dos anos dedicaram e destruíram a sua vida à procura do assassino que nunca foi capturado. Com uma realização estupenda que mantém o espectador colado à cadeira durante todo o filme, isto é cinema puro e intenso.

2- Promessas Perigosas - Eastern Promises
O Cronenberg parece ter deixado de vez os universos fantásticos que caracterizavam os seu filmes e após o também excelente "Uma História de Violência" apresenta Eastern Promises, um thriller sobre a máfia russa em Londres e principalmente sobre a natureza humana na sua forma mais primitiva, reproduzida na perfeição através de uma realização crua e violenta. Viggo Mortensen assina talvez a sua melhor interpretação de sempre encarnando na perfeição o motorista/hitman da máfia russa. Não tivesse um final um pouco desapontante e para mim seria de certeza o melhor filme dos últimos anos.

1- Cartas de Iwo Jima
Pois é, o mestre Clint não falha. Apesar de os óscares terem ido por bondade para o Scorcese, as Cartas de Iwo Jima é para mim um dos melhores filmes de guerra de sempre. Parece quase impossível que alguém ocidental tenha conseguido filmar e exteriorizar de forma tão autêntica e real a face japonesa da guerra, com todos os seus códigos de honra e ambiguidades morais, e sem cair no erro de tomar partidos desnecessários sobre o lado bom e mau da guerra. Contagiante, comovente, simplesmente fantástico.

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E o mais importante são as pessoas...


Davidien, italiano, 30 e poucos anos. 3 anos atrás vivia em Inglaterra a vender produtos italianos a restaurantes. Farto de viver para o trabalho despediu-se foi fazer voluntariado para o México. Foi aí que conheceu Dawn, a actual companheira. Voltaram para Inglaterra para ela acabar os estudos enquanto ele trabalhava num restaurante. A monotonia voltou a atacar então Davidien resolveu vender tudo o que tinha e partir com a namorada. Estão a viajar à 1 ano e meio pela Ásia, e pretendem continuar a fazê-lo enquanto houver dinheiro.

Conheci o Davidien em Thorung High Camp, no Nepal, a 4800m de altitude, à volta de uma mesa e um aquecedor. Bastante simpático e falador, passámos a tarde a a conversar, beber chá e jogar às damas e às cartas. Eles estavam retidos pela neve no High Camp e no dia anterior ele tinha partido um dente numa avalanche. Planeavam subir e fazer o pass no dia seguinte mas estavam equipados com ténis e casacos de lã. Mas fizeram o passe à mesma, com sacos de plástico a proteger os pés e meias a servir de luvas. Encontrei-os novamente em Muktinath, cansados mas bem dispostos como sempre. Combinámos um chá nessa noite mas desencontrámos-nos. Nunca mais os vi. Soube no dia seguinte que ele tinha sido mordido por um macaco e foi obrigado a ser evacuado para Jomoson. Que péssima maneira de terminar o trekking.

São estas e outras pessoas que fazem qualquer viagem ainda mais especial e que me leva a evitar viajar em grandes grupos. Como a holandesa que se despediu do trabalho como gestora de marketing e veio para a Índia trabalhar numa ONG em nome de Deus. Ou o casal alemão que decidiu vir fazer a lua-de-mel a andar 16 dias, e que chegam todos os dias aos refúgios com uma cara de sofrimento enorme. Ou o casal francês que só conseguiram voo até Delhi então fizeram o resto do percurso até Kathmandu num autocarro, durante 60 horas. Ou as israelitas, o austríaco, o australiano ou a neo-zelandesa. Ou o nosso amigo Johannes, o alemão que nos acompanhou quase desde o 1º dia na montanha.

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Thursday, January 03, 2008

Another Guiness plsz

Quem chega a Dublin não é fácil perceber à primeira vista que não estamos em Inglaterra mas sim na Irlanda. Ok, as notas não são aqueles lençóis horríveis com a fronha da rainha e em tudo quanto é sinalização o gaélico aparece por baixo do inglês (como se alguém percebesse aquela coisa intragável), mas os carros e as casas são iguais, tem as mesmas lojas e até os famosos pubs irlandeses me pareceram bastante ingleses. Como cheguei à noite, com um frio descomunal e com uma notícia má ainda por digerir fui-me deitar e deixei para o dia seguinte a tarefa de contrariar a primeira impressão.

Espíritos mais recompostos para um dia a passear por Dublin. O frio não passou, mas com gorros e casacos a coisa remediou-se, e com uma companhia asiática improvisada (DICA: para quem viaja sozinho dormir em pousadas da juventude é o melhor para arranjar amigos de ocasião) lá fui conhecer a Dublin histórica. As casas vitorianas e georgianas predominam por toda a cidade, com as suas fachadas clássicas e portas multicolores. A literatura é também bastante importante nesta cidade e o Trinity College, a mais antiga universidade do país é ponto de passagem obrigatório. Aqui podemos ver o Book of Kells, um dos mais antigos livros que se encontra preservado. Dublin foi também berço para três prémios nóbel da literatura (Yeats, Bernard Shaw e Samuel Beckett), além de outros famosos como Oscar Wilde, Jonathan Swift, Bram Stoker e James Joyce. Um manancial de escritores que nos são constantemente relembrados em museus ou estátuas espalhados pela cidade. Por fim a destacar as inúmeras igrejas e catedrais católicas, aqui sim a denunciar uma das principais diferenças culturais para a vizinha inglaterra. O centro de Dublin é relativamente pequeno e consegue-se ver relativamente bem num dia (talvez dois fosse melhor mas não se pode ter tudo).

Deixado de parte a visita cultural, e também a companhia asiática, tempo de ir conhecer a outra faceta cultural de Dublin, a vida nocturna. Acompanhado de quem conhece e gosta lá fui até Temple Bar, o bairro alto lá do sítio. Pubs e restaurantes com fartura, o difícil é escolher (e encontrar um que não esteja a abarrotar também não é fácil). Toda a gente sabe que Guiness é sagrada pros irlandeses e por isso tive de seguir as suas tradições, alternando com Kilkennys para não enjoar, isto ouvindo uma bela música tradicional, num ambiente smoke free (ah pois, a polémica lei já lá existe). Muito boa onda, as pessoas todas para se divertirem, e ao contrário dos ingleses ninguém sai para andar à porrada. Depois de muita cevada para a carola ainda tou para ver como consegui dar com o caminho para a pousada e como me consegui deitar no boliche de cima sem matar o resto dos ocupantes da camarata.

No dia seguinte o meu colega de copos lá me foi buscar e os dois com uma grande cabeça lá fomos visitar outra atracção turística, desta feita Newgrange, que faz parte do maior complexo de arte megalítica da Europa, daí ser património mundial. Impressionante a ligação dos celtas com o sol, no dia do solstício de inverno a pequena câmara fúnebre é iluminada por breves momentos, para depois voltar à escuridão total durante os seguintes 365 dias.

À noite mais um jantar mas pouco mais que isso, já que a cabeça ainda não estava boa do dia anterior. Na manhã seguinte voltei para Portugal.