Wednesday, November 14, 2007

Nepal - Kathmandu

Kathmandu é um caos. Isto pode ser um daqueles clichés de quem viaja pela Ásia ou pelas medinas muçulmanas, mas para mim, estreante nessas andanças, foi exactamente o que senti mal lá cheguei. A viagem do aeroporto para o hotel é alucinante, através de bairros que em Portugal nem tinham direito a serem considerados bairros da lata, numa confusão de trânsito indescrítivel e de buzinadelas constantes, onde camiões, carros, motas, bicicletas e rickshaws disputam estreitas estradas como se de autoestradas de seis faixas se tratassem e onde pessoas, vacas, cabras e galinhas andam nas suas vidas, isto tudo no meio de um manto de fumo e pó que não permite quase respirar, entre bastante lixo e odor a urina e excremento de animais.
Thamel, a zona onde ficava o meu hotel e epicentro turístico da cidade é um aglomerado de ruas em mau estado e carregadas de lojas, onde milhares de pessoas, muitos turistas mas na maioria locais vagueiam à procura de sacar uns dólares ou euros a quem teve a sorte de nascer no mundo ocidental. Aqui onde todas as pessoas são guias a nos oferecerem ajuda, onde se olhamos para uma loja de equipamento de montanha (todas atestadas de material feito na China e de qualidade duvidosa) nos oferecem um "goode praice", onde nos tentam vender desde bálsamo de tigre (a cura para tudo na ásia) até erva e haxixe (que também muita gente acha que cura tudo) ou simplemente uma pose para uma fotografia, e onde se tentamos parar um segundo levamos com uma buzinadela ou um encontrão. Este mundo onde é impossível ter um m2 de espaço ou um minuto de silêncio só para nós.

Kathmandu é fascinante. Depois de um par de horas completamente perdido no meio da confusão e a sofrer com uma viagem de 20h desde a Europa, esta idéia foi-se entranhando. As cores, os sons e os cheiros vibram à nossa volta e quando damos por nós estamos como que hipnotizados com toda a agitação e movimento. Aprendemos a nos mover por entre as multidões e as "pedinchises" passam a nos divertir em vez de nos irritar. Durbar Square é o centro nevrálgico e cultural da cidade, onde dezenas de templos hindus e gompas budistas servem de culto aos locais e de alvo das objectivas dos turistas, mas Durbar Square também é um mercado ao ar livre gigante, onde se vende de tudo, desde bananas e flores a tshirts da Britney Spears, e onde chá, especiarias e incensos perfumam o ambiente. Para os nepaleses, um misto de hindus e budistas, é também um sítio de oração e de harmonia, a provar que não é apenas a economia de um país que faz a sua riqueza.

Depois desta imersão cultural e humana fui jantar ao Rum Doodle, famoso por dar de comer à pala a todos os alpinistas que escalaram o Evereste após estes colocarem lá as suas pegadas, tipo páteo das estrelas. Por estes dias parecia mais confinado a receber aprendizes de feiticeiros como eu que vim apenas dar uns passeios nas montanhas, mas a comida é razoável e soube bem estar algum tempo longe da confusão. Cansadíssimo fui-me deitar ao som do gerador do hotel, já que como pelos vistos é usual, a electricidade foi cortada para racionalizar. A nível de choque cultural nada mal para o primeiro dia.

Voltei a Kathmandu quase 20 dias depois. Tinha regressado da minha aventura nos Annapurna. Vinha maravilhado com as montanhas e feliz por tudo ter corrido bem. Mas também vinha cansado, sub-nutrido e com "sede" de civilização. Queria descansar numa esplanada a beber uma cerveja e ler um livro, comer algo que não dhal-bat, arroz frito com legumes ou MoMo (massa recheada cozida no vapor), queria ir a um webcafé dizer aos meus amigos que tava vivo (e fazer-lhes um pouco de inveja), e queria, porque não, fazer umas compras.

Kathmandu já não é a cidade mítica que nos anos 70 ganhou a fama de meca dos hippies, e o turismo ainda está bastante fragilizado por anos de contestação (e extorsão aos turistas) maoísta, mas um certo feeling dos velhos tempos mantém-se. Os bares continuam decorados com os posters do Jimi Hendrix e do Bob Marley, e em muitos deles a erva ainda roda livremente entre os ocupantes, tudo num ambiente muito "lounge", aqui também muito em voga. É possível comer uma boa comida indiana, mexicana, italiana ou até do médio oriente e com um pouco de jeito também conseguimos arranjar uma boa esplanada que por milagre filtre as buzinadelas constantes. Ou podemos sempre ir para uma das muitas livrarias que vendem tudo quanto é livros de viagens a preços baratissimos. Arranjar uma ligação decente à internet já é mais díficil mas não se pode ter tudo. Para comprar os tais souvenirs a confusão do costume, mais lojas que clientes, a necessidade de regatear até à exaustão e a persistência dos vendedores em nos impingirem as coisas mais inúteis e de qualidade duvidosa.

Para os mais interessados na cultura do país, uma visita aos sítios classificados pela Unesco à volta de Kathmandu é indispensável. Os complexos budistas de Boodnath e Swayambunath (o templo dos macacos) satisfazem os mais zen, o templo hindu de Pashupatinah mostra cremações e sadhus, e as vilas medievais de Patan e Bhaktapur oferecem a essência da vida e dos rituais nepaleses. Num dia longo e cansativo consegue-se ver isto tudo, mas é preciso estar preparado para muito calor e intermináveis viagens de carro pelo meio da poluição e da confusão. Para visitar isto tudo de transportes públicos seria melhor reservar uma semana.

As fotos da viagem completa estão em: http://lbaia.fotopic.net/c1406443.html

Tuesday, November 06, 2007

No berço do mal - o país

Chegar a Tel Aviv é como chegar a qualquer cidade europeia, o aeroporto é moderno e dos mais bonitos que já vi, com uma enorme cúpula e enormes corredores construidos em pedra. A cidade está cheia de hoteis junto ao mediterraneo e arranha-céus de escritórios. Uma longa marginal junto à praia onde as pessoas fazem jogging ou bebem um copo num café dão um aspecto à la Sul de Espanha (o que é óptimo quando estão 30º na rua e 26º dentro de água, em finais de Outubro). A cidade foi apenas fundada em 1909 e a maioria da construção foi feita a régua e esquadro entre 1930 e 1950. As pessoas vestem-se e tem costumes totalmente europeus e apenas alguns judeus denunciam o sítio onde estou usando o tradicional kippah.

Temos de ir até Old Jaffa na zona sul de Tel Aviv para termos um feeling melhor do médio oriente. Antiga cidade portuária, uma das mais antigas do mundo, fundada na idade do bronze e determinante nos vários períodos posteriores, passando pela época medieval e pelo período otomano. Nos tempos mais modernos e após a revolta árabe na palestina, a maioria dos judeus saiu desta cidade e actualmente a sua população é maioritariamente muçulmana. Os seus mercados ao ar livre e as ruelas claustrofóbicas transportam-nos para tempos mais medievais.

Se o país tem um ambiente e um clima mediterrânico, as pessoas (principalmente os judeus) não mostram o calor típico destes países. Nada simpáticos, aldrabões e em muitos casos mal educados, não criam a mínima empatia com os turistas. Pelo menos 2 vezes fui deixado a falar sozinho no hotel e uma taxista praticamente me insultou por eu dizer que havia muito transito. A maioria das pessoas são também extremamente racistas, principalmente em relação aos muçulmanos, a quem consideram terroristas. Várias vezes me aconselharam a não sair de Tel Aviv por "estar cheio de árabes".

Jerusalem visto do monte das oliveiras é um cemitério gigante. Os judeus acham que é o sítio para serem sepultados de modo a poderem ascender aos céus e como tal não existe um metro quadrado de uma colina que não tenha uma tomba. Confesso que tinha uma ideia romântica de Israel como uma pequena aldeia cheia de igrejas e lugares bíblicos, e não estava à espera de ver uma cidade moderna por trás e uma grande confusão de trânsito. Claro que igrejas e templos não faltam, sejam católicos, muçulmanos, judeus, gregos ortodoxos, cópticos, russos ortodoxos e outros que nunca tinha ouvido falar. E para cada igreja existem milhares e milhares de crentes ou simples turistas, rezando, chorando, batendo com a cabeça no muro das lamentações, ou simplesmente tirando fotografias como foi o meu caso. Uma tremenda confusão, ao ponto de achar que a zona mais calma é o sukh do bairro muçulmano, onde se pode comer uns hummus ou uns falafels, e ver o mercado ao ar livre, cheio de especiarias, cachimbos de água e xailes em caxemira. No fundo é um sítio interessante mas para um ateu como eu bastante difícil de compreender e apreciar.

Mais interessante para mim foi a visita a Masada e ao Mar Morto. Masada é uma antiga cidade da judeia construída num rochedo 400 e tal metros acima do nível do mar morto, e que ficou famosa por ser um dos últimos basteões contra os invasores romanos. As ruínas estão bem conservadas mas o mais fantástico são as vistas sobre o mar morto, o deserto da judeia e a Jordânia. Uma paisagem árida e vasta que gostava de ter explorado melhor. Infelizmente não pude ir dar um mergulho ao mar morto mas as pessoas que estavam comigo dizem que é uma experiência única. Talvez numa próxima visita ao mar morto, de preferência ao outro lado da fronteira.

No global gostei do país mas os israelitas são intragáveis como pessoas. Voltar só por obrigação. E depois de ter sido interrogado durante 30 min para poder sair do país e ter visto as minhas malas terem sido passadas duas vezes pelo raio-x acho que nem por trabalho quero lá voltar.

Fotos em: http://lbaia.fotopic.net/c1403595.html