Wednesday, July 23, 2008

O monte antigo dos incas


Hoje a excitação era grande, e às 5e15 da manhã já os cerca de 200 caminhantes que fazem o caminho inca diariamente estavam a fazer fila à espera que o checkpoint abrisse para tentar chegar o mais depressa possível a Intipuktu (Porta do Sol).

Por volta das 6e30 e após uma subida lenta chegámos à Porta do Sol, que por esta altura bem se podia chamar Porta das Nuvens. Todo o vale estava coberto por um manto de neblina e nuvens baixas e a cidade perdida dos incas estava completamente eclipsada nesse manto branco. Após 17 dias de sol e céu limpo no Peru, e 4 dias a andar até aqui chegar era extremamente cruel que logo neste dia não se visse nada, e a frustração era geral entre os presentes.

O tempo passava e, apesar de algumas ameaças, o céu continuava a não querer abrir, e aos poucos e poucos quase todo o pessoal foi descendo resignado para Machu Picchu. Nós teimosamente fomos ficando e passado uma hora e pouco fomos recompensados. A neblina começou a passar e a cidadela de Machu Picchu (Monte Velho) e o monte de Wayna Picchu (Monte Novo) abriram-se perante nós. A frustração deu lugar a uma excitação e prazer primário indescritíveis. E que vista, não existem postais que consigam reproduzir a beleza do sítio. A imagem da cidadela de Machu Picchu, construida na encosta da montanha com o mesmo nome, 400m acima do fim do vale, e com o monte de Wayna Picchu nas suas costas é algo que acho que me vai ficar guardado na memória para sempre.


Como tínhamos combinado o tour da cidadela com o nosso grupo *as 8e30 tivemos de correr encosta abaixo, parando ocasionalmente para pasmar perante a vista. A cidadela em si é também muito interessante do ponto de vista histórico e arqueológico, e o tour que o Victor nos deu foi bastante elucidativo e explicativo, apesar de como sempre nestes locais se exagerar um pouco nas ligações cosmológicas. Por todo o lado se pode ver (requerendo mais ou menos imaginação) a trilogia andina do condor, puma e serpente, como se a beleza e história do sítio não fosse só por si interessante o suficiente.

Depois do tour ainda conseguimos vaga para subir ao Wayna Picchu. Apenas 400 pessoas (200 ao mesmo tempo) podem subir a este monte o que faz com que se formem longas filas de espera, para ter como "recompensa" uma árdua subida de 300m por degraus ainda mais íngremes do que os que tínhamos apanhado no Caminho Inca. As vistas do topo sobre Machu Picchu e os montes e picos nevados são muito boas, apesar de na minha opinião não se equiparar à vista da encosta que desce de Intipuktu, pois ao ver Machu Picchu tão de cima se perde alguma perspectiva.

As ruínas de Machu Picchu são realmente um local especial e pode-se perder facilmente um dia inteiro a por lá deambular. Os únicos senãos são o calor, os mosquitos que não me largaram as pernas e a horda de turistas que às vezes conseguem ser mais chatos que os mosquitos.

Por volta da hora de almoço saímos e apanhámos o bus para Águas Calientes, ou Machu Picchu City como é turisticamente conhecida. Apesar de situada num cenário deslumbrante, num vale de águas termais e rodeada de montanhas e cascatas, esta terrinha pode ser facilmente considerada a mais horrível que estive no Peru. Construída exclusivamente para acolher os milhares de turistas que vão às ruínas diariamente, é um aglomerado de lojas, restaurantes e hotéis, tudo construído com extremo mau gosto. O tempo que lá passámos pareceu-nos uma eternidade.

Para regressar a Cusco a única opção é o comboio pois a estrada acaba no km82 onde começa o caminho inca. Este comboio, além de desconfortável devia ganhar o título de comboio mais lento do mundo, pois demora cerca de 4h30m a percorrer os 114km de ferrovia entre Águas Calientes e Cusco, sendo a última hora particularmente exasperante, ziguezagueando para trás e para a frente dentro de Cusco. Um martírio para quem se tinha levantado às 4 da manhã e andava a caminhar à 4 dias e sem tomar banho. Este último troço faz com que muitas pessoas saiam do comboio na estação anterior a Cusco e apanhem um táxi ou bus para o centro da cidade, opção que infelizmente não nos foi explicada nem colocada pela agência de trekking.

Chegámos a Cusco às 10 da noite e apesar da cidade estar em festa pelas preparações para o Inti Raymi (Festa do Sol), só pensámos em tomar um banho, comer qualquer coisa, reencontrar o resto do grupo e dormir.

Podem ver as fotos todas em:
http://lbaia.fotopic.net/c1549611.html