Tuesday, October 17, 2006

Tallinna - Eesti, a parte final


No 3º dia acordei com o cérebro inchado, fruto dos abusos da noite anterior. E para me desanimar ainda mais o céu estava horrivelmente cinzento, daqueles que estragam qualquer tentativa de tirar fotografias decentes. Nos dias anteriores tinham ocorrido alguns aguaceiros, mas o sol lá aparecia por trás das nuvens. Hoje não, sol nem vê-lo.

O plano túristico para hoje era sair um pouco do centro da cidade, mais concretamente visitar a zona de Kadriorg e a aldeia de Pirita.

Apanhei o autocarro para perto do palácio barroco que dá nome ao sítio. Construído por um arquitecto italiano entre 1718 e 1736 por ordem de Pedro o Grande, serviu como palácio czariano durante dois séculos. O palácio é ok, mas o que gostei realmente foi dos jardins e do parque adjacente, pintados pelos tons quentes das folhas das árvores no Outono. Ai se o céu tivesse azul!

Atravessando o parque chega-se à baía de Tallinn e andando cerca de 5km ao longo da mesma chega-se a Pirita, zona balnear preferida dos habitantes de Tallinn (coisa que por razões óbvias eu não procurava em Outubro). Fiz esse caminho a andar nas calmas, o que serviu para curar a ressaca e pensar o que cá estava a fazer. Pirita contém ainda o antigo convento de Sta. Brigite, datado do séc XV mas que se encontra praticamente em ruínas, fruto dos bombardeamentos ordenados por Ivan o Terrível no séc. XVI.

Foi uma visita engraçada principalmente porque me deliciei a fotografar um dos meus temas favoritos: cemitérios.

Como a barriga já dava horas, apanhei o autocarro para o centro, e a passei a tarde deambulando pelos sítios que já tinha visitado, procurando pormenores à espera da minha objectiva e fazendo tempo para me encontrar com 4 compinchas tugas que chegavam hoje para uma semana de férias aqui pelo Báltico.

Perto da hora de jantar do jantar ele lá chegaram, eu fiz um briefing sobre a cidade, fomos comer e beber uns copos. No fim da noite tempo para conhecer uma discoteca, e tenho quase certeza que nunca tinha estado num sítio com tantas raparigas lindas de morrer.


Depois de uma noite horrível de sono levantei-me, arrumei a tralha e fiz o check out do hostel. O espírito já não estava em Tallinn, mas sim a pensar que mal chegasse a Lisboa teria de fazer de novo a mala para ir no dia seguinte 2 dias para Londres em trabalho. Até ao avião limitei-me a passar o tempo, almoçar e gastar as últimas coroas em coisas fúteis.

Ficam na memória 4 dias numa cidade diferente do que os europeus do sul estão habituados, interessante culturalmente mas um pouco túristica de mais. Vale a pena, mas aconselho fazer como os compinchas que cá chegaram ontem, vendo Tallinn e de seguida alugando um carro para conhecer o resto da Estónia e os outros países do Báltico.

Monday, October 16, 2006

Tallinna - Eesti, part II (ta quase, so falta mais uma)

Definitivamente tenho de moderar o meu ritmo a visitar cidades. Ok, a cidade antiga parecia maior nos guias, mas terminar à hora de almoço de ver tudo o que tinha planeado para o dia inteiro é algo estranho...

O que atrai os turistas a Tallinn (além da noite mas isso fica para adiante) e que levou a cidade antiga a ser incluída na lista de patrimonio mundial da UNESCO é a sua cidadela fortificada medieval com um conjunto impressionante de igrejas e edíficios, alguns datados do séc. XIII e em excelente estado de conservação. Estima-se que desde o séc. XI exista um posto mercantil na zona que hoje se denomina por Toompea. Quando no séc. XIII o papa ordenou uma cruzada contra os povos pagãos do Báltico, alemães e dinamarqueses atacaram a cidade, tendo estes últimos em 1219 conquistado a cidade, dando-lhe o nome de Taani linn, que significa "cidade dinamarquesa" em estónio. No séc XIV a cidade foi vendida à ordem Teutónica e assim se tornou um importante membro da liga Hanseática, servindo de rota mercantil entre a Rússia e o ocidente. No séc. XVI a Estónia era disputada violentamente por Rússia, Suécia, Dinamarca e Polónia, tendo por fim a Suécia conquistado a cidade e mantendo a paz interna até ao séc XVIII, altura em que o russo Pedro o Grande voltou a conquistar o país, tendo-se mantido num regime de quase escravidão até ao inicio do séc XX.

Os highlights da cidade antiga foram para mim a praça central (Raekoja Plats), centro nevrálgico com a sua camara municipal e inúmeros cafés e lojas; as vistas do topo da igreja de St. Olaf (apesar que tudo tem um preço, e neste caso são os 280 degraus numa escada de pedra em caracol); e a catedral ortodoxa de Alexander Nevski, estrategicamente constrúida no cimo de Toompea para demonstrar o poder russo no séc. XIX.

O que gostei menos acabou por ser a qualidade (ou melhor, falta dela) dos museus locais. Minúsculos e básicos, era díficil aguentar mais de 5min em cada um (aqui também está uma pequena justificação para a rapidez com que vi a cidade). O único que ainda se safava era o da ocupação, que focava a ocupação russa no séc XX, com bom material informativo e um excelente conjunto de memorabilia russa. A questão russa é bastante sensível para os estónios. Desde sempre muito mais próximos dos finlandeses (a nível de religião e língua, dando apenas dois exemplos) os estónios sempre viveram oprimidos detrás da cortina de ferro. Quando a então URSS começou a entrar em declínio a revolta dos estónios aumentou, tendo este país sido, em conjunto com Letónia e Lituânia, um dos motores da contestação que levou ao desmantelamento da URSS em 1991. Agora a Estónia pertence à UE, sendo actualmente um dos países com maior taxa de crescimento (cerca de 11% em 2005). Paradoxalmente, os 30% de russos que habitam o país não tem direito de voto.

Depois do almoço estava a pensar o que fazer mas uma forte chuvada facilitou-me a decisão, e fui enfiar-me num bar a beber cerveja e a ler um pouco (mas desta vez não fui masoquista e decidi beber uma cerveja belga). Um pouco mais tarde decidi passar pela tal "Casa de Portugal". Para minha surpresa não estava lá nenhum Zé Bigodes chamado Manel Amândio mas sim uma bonita rapariga local que me explicou que a casa pertence a um português que se radicou aqui na Estónia há cerca de 2 anos e montou o negócio além do seu trabalho normal, para dar a conhecer alguns dos produtos portugueses de qualidade. Nas prateleiras via-se café, azeite mas principalmente muito vinho de qualidade. Ela disse-me que os portugueses por cá são poucos mas que muitos dos vinhos (principalmente do Dão e do Esporão) têm muita procura por parte de turistas e restaurantes locais. Gostei de ouvir isso...

Quando sái do hotel à hora de jantar percebi porque o guia Lonely Planet considera que uma das coisas boas de Tallinn é estar perto de Helsínquia mas uma das coisas más é estar demasiado perto de Helsínquia. Pouco mais de 1h de ferry a ligar estas cidades faz com que hordas de suomis invadam Tallin aos fim de semana, em busca de bebida barata e da beleza das locais. Pior que eles só os ingleses, que também são aos magotes, muito devido aos voos low-cost da Ryan Air e Easy Jet. Bem, mas esses são uma praga por todo o mundo.

A oferta nocturna pode-se dividir em: pubs ingleses/irlandeses (entrei num por engano e bati o meu recorde de velocidade a beber uma pint para conseguir sair de lá); pubs locais com um bom compromisso entre estónios e turistas, cafés lounge muito em voga pelo pessoal mais in, e no fim da noite acaba tudo em discotecas do mais variado tipo.

Para comer as opções são MacDonalds e afins, os já falados pubs locais que oferecem comida razoável a preços abaixo dos 5€ e os restaurantes propriamente ditos que (pelo menos no centro) têm tendencia a ser caros (pratos entre 10 e 20€) e nada de especial. A comida estónia é muito à base de carne, muito pesada e pelo menos a mim não me deixou saudades.

A noite passou-se, com muita cerveja e algumas tentativas frustradas de travar conhecimento com as locais. Não é fácil quando o ingles é tão rudimentar que se resume a "Yes", "No" and "Where are U from". Isto juntando ao barulho da música torna as coisas complicadas...

Wednesday, October 11, 2006

Tallinna - Eesti, part I



A 1ª impressão que fiquei quando cheguei a Tallinn não foi boa. Uma aeroporto que parece uma gare de autocarros, sem multibancos ou pessoas que falem inglês; um autocarro mal cheiroso cheio de estónios e russos de modos rudes e pouco amistosos; um percurso pautado por subúrbios sujos e feios, onde blocos de betão de "arquitectura" russa de aspecto infeliz albergam pessoas com um aspecto ainda mais infeliz.

O autocarro lá chegou ao centro da cidade e de repente tudo mudou. Estava de regresso à europa ocidental, mais concretamente podia estar em qualquer cidade no norte da europa. Uma coroa exterior composta por prédios-sede de multinacionais e centros comerciais onde gente moderna se passeava em carros de luxo, e uma coroa interior albergando a cidade antiga, a tal que aparece nos guias de viagem e que atrai os turistas (com excepção dos finlandeses que só são atraídos pela bebida barata). Aqui
até as pessoas falavam inglês (apesar de rudimentar).

Com mais ou menos dificuldade (só me enganei 3 vezes) lá cheguei ao hostel onde tinha aluguado um quarto e cujo critério de escolha foi apenas o menor preço possível. Fui recebido por uma rapariga bem gira (Katrin de seu nome) mas simpática como um urso. Ainda eu não tinha começado a preencher o impresso de check-in já ela me estava a pedir o pagamento ("1350 kroonas, no cards, money only"). Quando eu fiz uma cara estranha apenas porque não tinha percebido o que ela disse, ela apontou para um papel a indicar que quem não pagasse à priori seria levado para a antiga sede da KGB onde me seriam arrancadas as unhas dos pés (ok, esta parte fui eu que deduzi do olhar dela). Bem, no fim as coisas lá se resolveram (pensando bem, para que servem as unhas dos pés?).

O meu quarto tem menos de 10m2, com uma cama feita para anões e um conjunto de quinquilharia retro: uma telefonia, um candeeiro de estanho e um baú a cair de podre. As paredes tão forradas por duas secções de papel, a inferior disposta em listas horizontais verde-tropa e a superior com um padrão a imitar recortes de jornais. Percebo agora onde foram filmadas aquelas séries da BBC dos anos 70. O site da Internet onde aluguei o quarto mencionava uma decoração moderna e acolhedora. Ao menos tudo está limpo e por 30€/noite a 5min da praça central é muito bom.

Depois de despejar boa parte da mochila no quarto decidi ir dar uma volta de reconhecimento pela cidade, preparar os dias seguintes. Vi uma igreja com uma torre bem alta, outra igreja com uma torre ainda mais alta, vi uma catedral cheia de coisas escritas com uns caracteres estranhos e que tinha um sósia do Rasputin a celebrar missa, vi uma loja chamada "Casa de Portugal" (a investigar melhor amanhã), e não vi mais coisas porque começou a chover bastante e eu resolvi refugiar-me num pub.

O pub em que acabei por parar chama-se "Hell Hunt" e gaba-se de ser o 1º pub da Estónia (datado de algures no séc. XVII). A cerveja produzida no pub sabia a mijo de um burro da Estónia do séc. XVII e juntando isso ao facto de a maioria dos clientes serem homens e turistas levou-me a ponderar não mais lá voltar. Mas como ainda chovia lá fora e a comida da Lufthansa não é muito do meu agrado, pedi mais uma cerveja e conheci um casal de espanhóis das Astúrias que tal como eu estavam aqui de férias um pouco por acaso e que tal como eu se sentiam um bocado perdidos.

Depois da amigável conversa, regressei ao hotel para escrever estas notas e ler umas quantas notícias na parede, ouvindo a chuva a cair, esperando que chova tudo esta noite para amanhã fazer sol...

Monday, October 02, 2006

Praia da Ursa


A poucas centenas de metros do Cabo da Roca existe um pequeno paraíso fotográfico chamado Praia da Ursa. A praia mais ocidental da Europa é um sítio selvagem, fruto de milhões de anos de erosão provocada pela força do oceano atlântico. Para lá chegarmos temos de descer um falésia com cerca de 150m, por trilhos dificeis e escorregadios. Mas quando por fim chegamos ao areal sabemos que valeu o esforço. Escarpas pontiagudas entre falésias elevadas, um pequeno areal e inúmeras rochas trazidas pelo mar fornecem um manancial quase inesgotável de imagens arrebatadoras, principalmente ao fim da tarde quando o sol está perdendo a sua força e se esconde por entre as rochas.

Duas gigantescas pedras destacam-se no seu lado Norte fazendo-nos lembrar, a primeira, uma ursa em pose altiva. Uma lenda conta que há muitos milhares de anos, quando a terra estava coberta de gelo, aqui vivia uma ursa e seus filhotes. Quando o degelo começou, os Deuses avisaram todos os animais para abandonarem a beira-mar, mas a ursa, teimosa, recusou-se pois ali tinha nascido e ali queria ficar. Os Deuses enfurecidos transformaram a ursa em pedra e os seus filhotes em pequenos calhaus dispersos à volta da mãe e ali ficaram para sempre dando assim o nome à praia.

Infelizmente para mim, dispunha de pouco tempo para uma sessão fotográfica condigna com o local, mas em pouco mais de 20 min consegui ainda disparar o obturador da minha máquina quase 2 dezenas de vezes. Mas lá voltarei com mais tempo, de modo a poder aproveitar ao máximo aquela dádiva da natureza... Convém é ir no Outono/Inverno, já que uma pequena busca na net mostra que a praia faz parte da rede de praias naturistas, e o meu interesse pela fotografia resume-se a natureza morta...

Entretanto as poucas fotos tiradas encontram-se em:
http://lbaia.fotopic.net/c1099471.html