"No Worries" City
Sydney não é a capital da Austrália, ao contrário do que muita gente pensa. Essa honra cabe a Canberra, construida de raiz durante o início do séx. XX. Apesar disso, Sydney é a cidade mais importante, seja a nível turístico ou financeiro. Consta que o actual primeiro ministro, John Howard, se recusou quando foi eleito a ir viver para Canberra. Mas nem sempre foi assim, em 1957 a oferta turística de Sydney era de 800 camas, uma nulidade. Foi então que o chefe da filarmónica convenceu a camara a abrir concurso para a construção de uma ópera. O projecto arrojado do desconhecido arquitecto dinamarquês JOrn Utzon foi o premiado e apesar do projecto ter sido um buraco financeiro, a verdade é que atrai milhões de turistas e catapultou Sydney para um patamar turístico ao nível de Londres, NY ou Paris.
Chegar a Sydney numa sexta à noite de quase verão austral, depois de um mês na paz dos kiwis é um choque. As ruas apinhadas de gente, o trânsito, os arranha-céus e até um mono-carril que lembra o Blade Runner... Como custa voltar à civilização... Arranjar sítio para jantar por estas alturas também não é fácil, apesar da vasta escolha, mas lá conseguimos um lugarzinho num italiano ruidoso. Após o jantar, tempo para um pequeno passeio até começar a chover, o que por estas andanças é tão raro como ver kiwis na terra deles, e voltámos para o hostel.
Levantei-me cedo e motivado para conhecer a pé esta grande cidade, ideia que só mais tarde viria a perceber, me custaria algumas bolhas nos pés. Depois de percorrer a azáfama do bairro chinês, apinhado de gente trabalhando ou dando a trabalhar no comércio local, cheguei à Darling Harbour, uma espécie de parque das nações aqui do sítio. Quando ontem jantámos aqui a zona estava apinhada de gente, mas hoje de manhã, com excepção de um grupo de asiáticos a praticar Tai Chi, não se via vivalma, e tudo estava ainda encerrado, incluindo o posto de turismo. Ainda era muito cedo para o pessoal recuperar da animação da noite anterior. Mas os turistas lá foram aparecendo, 1º timidamente, mas depois de visitar o aquário e a espécie de zoo ao lado, a confusão de gente já estava outra vez armada.
Não gosto muito de zoos mas não queria perder a oportunidade de ver a fauna local, pois afinal estamos no país que, de entre os 10 animais mais venenosos do mundo, praí 11 são de cá oriundos, desde cobras, aranhas, crocodilos e caravelas lusitanas, tudo o que há de mau por cá existe. Talvez por isso os zoos sejam mais populares que excursões ao deserto. E depois há os cangurus e os koalas.
Mais 1 ou 2km a andar e cheguei perto da famosa ópera. É uma obra de arquitectura magnífica, com os seus telhados em forma de velas e a textura das paredes a lembrar a pele de uma cobra. Mas para mim a imponência da Harbour Bridge é ainda mais magnífica, são toneladas de ferro, aço e betão ao longo dos 503m de comprimento do seu arco. Sydney tem um impressionante Skyline, uma torre com 310m de altura e a ópera, mas é a ponte a referência omnipresente.
Depois de almoçar passei a tarde inteira a vaguear pela cidade. Subi a George St. (cheia de lojas e hóteis), desci a Pitt St., atravessei o Hyde Park (nunca percebi a pancada das cidades anglosaxónicas chamarem sempre Hyde Park ao parque da cidade) bem como os jardins botânicos, visitei a catedral, o city hall, o memorial à guerra e o museu australiano.
Um sítio que me chamou a atenção foi "Mrs Macquaries Chair", um miradouro cujo nome homenageia a esposa do 1º governador australiano, um escocês nada excêntrico, já que não existe uma cidade australiana que não tenha pelo menos 10 coisas com o seu nome. Porque é que este miradouro foi o que mais me atraiu? Porque este era sem dúvida o melhor sítio para ver a ópera com a ponte por trás, o postal que trazia na cabeça desde Portugal. Imediatamente percebi que tinha de voltar ao lusco-fusco para fotografar esses ex-libris a partir daqui. Para isso precisava do tripé que tinha ficado no hostel (a cerca de 40min daqui), mas nada me demoveu e 1/2h antes da tal hora da luz especial já estava a montar o equipamento, ao lado de uma dúzia de outros que também sabiam que aquele era o spot. Foi um momento de satisfação pessoal e modéstia à parte, os resultados foram bastante razoáveis. Regressei ao hostel já noite cerrada e coxo, com um pé em sangue devido a uma bolha provocada pelas sandálias. Mas feliz e com o objectivo inicial atingido, tinha visto grande parte de Sydney num dia, e sempre a pé.
Já sem vontade para acompanhar os outros portugueses em grandes jantaradas encontrei "OGALO", ou como dizia o placard, "fast food with a portuguese taste". Com pratos como prego, frango assado ou cachorro foi quase como um regresso antecipado, apesar de para mim o placard dever ser mudado para "portuguese food with an australian taste". Só não tinha era Super Bock, uma pena. Fui-me deitar depois de enfardar meio frango assado e um cachorro.
Depois de uma dia na confusão da cidade, nada melhor que regressar à montanha, voltar a calçar as botas (não é que tivesse outra hipótese devido às bolhas) e caminhar um dia inteiro. Apanhei o comboio para Katoomba, hub turístico para visitar as Blue Mountains. Sendo eu próprio um utilizador regular de comboios para me deslocar para o emprego, gosto de viajar de comboio para perceber a vida local. Claro que hoje era domingo quase de madrugada, logo os únicos passageiros são turistas como eu. Além de um vagabundo que tresanda a mijo e álcool e não deixa dormir ninguém. Não podendo ver as pessoas locais observo o sítio onde essas pessoas provavelmente ainda dormem. Os arredores de Sydney parecem-se com qualquer dormitório inglês, mas à medida que nos vamos afastando para o interior, a marca colonial faz-se sentir e os dormitórios são substituídos por longas fazendas e elegantes casas de campo.
As Blue Mountains devem o seu nome a uma espécie de eucalipto cuja folhagem, apesar de verde, reflecte a luz solar num tom bastante azulado, dando a impressão que as montanhas ao longe são dessa cor. Provi-me de um mapa da zona e pus-me a andar por um dos trilhos "civilizados" do parque. Foram 7h a subir e descer montes, através de ravinas, florestas de eucaliptos e pinheiros, cascatas (a maioria quase secas devido ao inverno seco que por aqui passou), observado os pontos mais famosos do parque, como as "3 Irmãs", 3 pináculos de calcário que me fizeram lembrar as saudosas Torres del Paine na Patagónia, em miniatura... Isto tudo sobre um sol abrasador com uma temperatura de certeza superior a 30ºC, o que me desidratou completamente e acentuou ainda mais o meu bronze à pedreiro (ou à montanheiro, como eu prefiro chamar).
Regressei a Sydney quase à hora de jantar, reencontrei-me com os meus colegas e fomos jantar. Comer num restaurante na marina de Sydney é sinónimo de comida nada de especial (apesar do bife de canguru até não ser mau) e um grande rombo na carteira. O usual em qualquer grande cidade.
Acordei para o último dia em Sydney, tempo de fazer as malas e dar uma última volta pela cidade, ver algo que escapara e fazer umas compras. A arte aborígena, além de ser considerada a forma de arte ainda em actividade mais antiga do mundo, é bastante interessante. Os boomerangs, didjeridoos, esculturas em pedra e principalmente as pinturas fazem qualquer pessoa perder a cabeça e no meu caso uma boa parte do subsídio de natal.
Como o céu, ao contrário dos dias anteriores, estava bem azul, quis tirar umas fotos panorâmicas da cidade. O sítio que me pareceu mais óbvio era a Sky Tower. Escolha bastante errada por duas razões: apesar da sua altura encontra-se no meio da Skyline, logo as vistas para a baixa são uma porcaria e além disso os vidros estavam imundos. Uma perca de tempo e dinheiro. Para me redimir subi a um dos pilares da Harbour Bridge, que apesar de muito mais baixo que a torre, dá vistas espectaculares da cidade.
Antes de ir para o aeroporto ainda tempo para um pequeno passeio de barco, num dos "espécies de cacilheiros" que fazem inúmeras viagens entre as várias ilhas que circundam Sydney.
Vou para o aeroporto e apesar de três horas de atraso lá levanto voo rumo a Lisboa, onde cheguei 30h depois...
Chegar a Sydney numa sexta à noite de quase verão austral, depois de um mês na paz dos kiwis é um choque. As ruas apinhadas de gente, o trânsito, os arranha-céus e até um mono-carril que lembra o Blade Runner... Como custa voltar à civilização... Arranjar sítio para jantar por estas alturas também não é fácil, apesar da vasta escolha, mas lá conseguimos um lugarzinho num italiano ruidoso. Após o jantar, tempo para um pequeno passeio até começar a chover, o que por estas andanças é tão raro como ver kiwis na terra deles, e voltámos para o hostel.
Levantei-me cedo e motivado para conhecer a pé esta grande cidade, ideia que só mais tarde viria a perceber, me custaria algumas bolhas nos pés. Depois de percorrer a azáfama do bairro chinês, apinhado de gente trabalhando ou dando a trabalhar no comércio local, cheguei à Darling Harbour, uma espécie de parque das nações aqui do sítio. Quando ontem jantámos aqui a zona estava apinhada de gente, mas hoje de manhã, com excepção de um grupo de asiáticos a praticar Tai Chi, não se via vivalma, e tudo estava ainda encerrado, incluindo o posto de turismo. Ainda era muito cedo para o pessoal recuperar da animação da noite anterior. Mas os turistas lá foram aparecendo, 1º timidamente, mas depois de visitar o aquário e a espécie de zoo ao lado, a confusão de gente já estava outra vez armada.
Não gosto muito de zoos mas não queria perder a oportunidade de ver a fauna local, pois afinal estamos no país que, de entre os 10 animais mais venenosos do mundo, praí 11 são de cá oriundos, desde cobras, aranhas, crocodilos e caravelas lusitanas, tudo o que há de mau por cá existe. Talvez por isso os zoos sejam mais populares que excursões ao deserto. E depois há os cangurus e os koalas.
Mais 1 ou 2km a andar e cheguei perto da famosa ópera. É uma obra de arquitectura magnífica, com os seus telhados em forma de velas e a textura das paredes a lembrar a pele de uma cobra. Mas para mim a imponência da Harbour Bridge é ainda mais magnífica, são toneladas de ferro, aço e betão ao longo dos 503m de comprimento do seu arco. Sydney tem um impressionante Skyline, uma torre com 310m de altura e a ópera, mas é a ponte a referência omnipresente.
Depois de almoçar passei a tarde inteira a vaguear pela cidade. Subi a George St. (cheia de lojas e hóteis), desci a Pitt St., atravessei o Hyde Park (nunca percebi a pancada das cidades anglosaxónicas chamarem sempre Hyde Park ao parque da cidade) bem como os jardins botânicos, visitei a catedral, o city hall, o memorial à guerra e o museu australiano.
Um sítio que me chamou a atenção foi "Mrs Macquaries Chair", um miradouro cujo nome homenageia a esposa do 1º governador australiano, um escocês nada excêntrico, já que não existe uma cidade australiana que não tenha pelo menos 10 coisas com o seu nome. Porque é que este miradouro foi o que mais me atraiu? Porque este era sem dúvida o melhor sítio para ver a ópera com a ponte por trás, o postal que trazia na cabeça desde Portugal. Imediatamente percebi que tinha de voltar ao lusco-fusco para fotografar esses ex-libris a partir daqui. Para isso precisava do tripé que tinha ficado no hostel (a cerca de 40min daqui), mas nada me demoveu e 1/2h antes da tal hora da luz especial já estava a montar o equipamento, ao lado de uma dúzia de outros que também sabiam que aquele era o spot. Foi um momento de satisfação pessoal e modéstia à parte, os resultados foram bastante razoáveis. Regressei ao hostel já noite cerrada e coxo, com um pé em sangue devido a uma bolha provocada pelas sandálias. Mas feliz e com o objectivo inicial atingido, tinha visto grande parte de Sydney num dia, e sempre a pé.
Já sem vontade para acompanhar os outros portugueses em grandes jantaradas encontrei "OGALO", ou como dizia o placard, "fast food with a portuguese taste". Com pratos como prego, frango assado ou cachorro foi quase como um regresso antecipado, apesar de para mim o placard dever ser mudado para "portuguese food with an australian taste". Só não tinha era Super Bock, uma pena. Fui-me deitar depois de enfardar meio frango assado e um cachorro.
Depois de uma dia na confusão da cidade, nada melhor que regressar à montanha, voltar a calçar as botas (não é que tivesse outra hipótese devido às bolhas) e caminhar um dia inteiro. Apanhei o comboio para Katoomba, hub turístico para visitar as Blue Mountains. Sendo eu próprio um utilizador regular de comboios para me deslocar para o emprego, gosto de viajar de comboio para perceber a vida local. Claro que hoje era domingo quase de madrugada, logo os únicos passageiros são turistas como eu. Além de um vagabundo que tresanda a mijo e álcool e não deixa dormir ninguém. Não podendo ver as pessoas locais observo o sítio onde essas pessoas provavelmente ainda dormem. Os arredores de Sydney parecem-se com qualquer dormitório inglês, mas à medida que nos vamos afastando para o interior, a marca colonial faz-se sentir e os dormitórios são substituídos por longas fazendas e elegantes casas de campo.
As Blue Mountains devem o seu nome a uma espécie de eucalipto cuja folhagem, apesar de verde, reflecte a luz solar num tom bastante azulado, dando a impressão que as montanhas ao longe são dessa cor. Provi-me de um mapa da zona e pus-me a andar por um dos trilhos "civilizados" do parque. Foram 7h a subir e descer montes, através de ravinas, florestas de eucaliptos e pinheiros, cascatas (a maioria quase secas devido ao inverno seco que por aqui passou), observado os pontos mais famosos do parque, como as "3 Irmãs", 3 pináculos de calcário que me fizeram lembrar as saudosas Torres del Paine na Patagónia, em miniatura... Isto tudo sobre um sol abrasador com uma temperatura de certeza superior a 30ºC, o que me desidratou completamente e acentuou ainda mais o meu bronze à pedreiro (ou à montanheiro, como eu prefiro chamar).
Regressei a Sydney quase à hora de jantar, reencontrei-me com os meus colegas e fomos jantar. Comer num restaurante na marina de Sydney é sinónimo de comida nada de especial (apesar do bife de canguru até não ser mau) e um grande rombo na carteira. O usual em qualquer grande cidade.
Acordei para o último dia em Sydney, tempo de fazer as malas e dar uma última volta pela cidade, ver algo que escapara e fazer umas compras. A arte aborígena, além de ser considerada a forma de arte ainda em actividade mais antiga do mundo, é bastante interessante. Os boomerangs, didjeridoos, esculturas em pedra e principalmente as pinturas fazem qualquer pessoa perder a cabeça e no meu caso uma boa parte do subsídio de natal.
Como o céu, ao contrário dos dias anteriores, estava bem azul, quis tirar umas fotos panorâmicas da cidade. O sítio que me pareceu mais óbvio era a Sky Tower. Escolha bastante errada por duas razões: apesar da sua altura encontra-se no meio da Skyline, logo as vistas para a baixa são uma porcaria e além disso os vidros estavam imundos. Uma perca de tempo e dinheiro. Para me redimir subi a um dos pilares da Harbour Bridge, que apesar de muito mais baixo que a torre, dá vistas espectaculares da cidade.
Antes de ir para o aeroporto ainda tempo para um pequeno passeio de barco, num dos "espécies de cacilheiros" que fazem inúmeras viagens entre as várias ilhas que circundam Sydney.
Vou para o aeroporto e apesar de três horas de atraso lá levanto voo rumo a Lisboa, onde cheguei 30h depois...
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