FDS de 25 de Abril
Dia 0 - Viagem de Lisboa a Piornal
Início de viagem atribulado. Já não bastava a chuva torrencial que caía em Lisboa, cheguei à conclusão que o meu carro não anda bem de saúde e tem pouca vontade de debitar os 110cv que o motor diz que tem. Lá tive de fazer a viagem toda dentro dos limites de velocidade legais, o que é uma valente seca.
Isto de dormir pouco, acordar e fazer a mala não costuma dar muito bom resultado, e foi o que aconteceu. Para piorar, enquanto pensava nas coisas que me tinha esquecido (cantil, pilhas para o GPS, indicações do caminho), e porque o piloto automático está habituado a fazer o caminho Lisboa-Algarve, reparei numa placa com a próxima saída a indicar Alcácer do Sal. Umas breves contas de cabeça e concluí que a saída para a A6 para Espanha já tinha passado. Solução: Voltar para trás ou cortar caminho indo pela Nacional até Montemor-o-Novo... Escolhi a segunda opção, o que me providenciou uma paisagem mais bonita mas deixou de seca o João que estava à minha espera em Caia.
Chegado a Caia com 1h de atraso lá me encontrei com o João, um alentejano de Beja que me iria dar boleia o resto do caminho. Já o conhecia de vista de outras caminhadas, mas nunca tinha falado com ele... Bastante simpático e divertido. O resto do caminho até à estalagem onde seria a base das caminhadas do fds correu sem problemas, passámos por Cáceres para comprar alguma comida e parámos em Plasencia para dar uma volta. Plasencia é uma cidade agradável, com uma bonita catedral e um conjunto de igrejas e palacetes do sec. XVI, e com uma bonita Plaza Mayor onde bebemos uma cerveja na esplanada.
Chegados à estalagem "La Serrana" em Piornal, conhecemos durante o jantar o resto do pessoal que nos iria acompanhar, ou melhor, no meu caso foi um reencontro, já que conhecia a maior parte do pessoal. Por estas alturas o tempo tinha aberto um pouco, apesar de ainda estar bastante nublado. As previsões para o dia seguinte não eram muito boas, previa-se um fds molhado.
Dia 1 - Reserva Natural "Garganta del Infierno"
Depois de uma noite mal dormida, muito por culpa de uma cama horrível com uma almofada muito alta que me deu cabo do pescoço, mas também devido ao meu colega de quarto, que ressonava ruidosamente (Crinas e Jé, estão perdoados!), tomámos o pequeno-almoço e fizémos o transfer de carro até ao centro de interpretação ambiental do parque natural.
O centro de interpretação está muito bem cuidado e fornece inúmera informação sobre as características do parque e as actividades que lá podemos fazer. É uma vergonha que Portugal esteja tão sub-desenvolvido a este nível, cá o eco-turismo não tem valor, o que interessa é campos de golfe e hotéis em cima da praia. E mais interessante ainda é o conjunto de famílias que vão desfrutar e passar um dia agradável nestes locais.
Começamos então a caminhada, um percurso de cerca de 15km através do Vale do rio Jerte, uma paisagem linda, cheia de água e vegetação verde, através de um percurso exigente, com muitas pedras a dificultar a progressão. A paisagem é tão bonita que em certas partes me lembrou a Patagónia, com as respectivas limitações. O céu estava nublado, mas não choveu e deu para fazer o percurso quase sempre de manga curta. Os receios de chuva não se concretizaram, o que foi excelente.
A progressão era lenta, devido ao terreno acidentado, à inexperiência de alguns dos caminhantes, mas principalmente ao desejo dos participantes disfrutarem da paisagem. Com a minha impaciencia caracteristica, e porque o guia já me conhece e sabe que tenho alguma experiência nisto, acelerei um pouco o passo de modo a disfrutar da caminhada. Fui seguido por o Jorge, um tripeiro que tal como eu tava um pouco aborrecido do passo de caracol. A caminhada prosseguiu até a vila de Jerte, onde terminou por volta das 17h e onde descansámos bebendo um caña numa esplanada.
Insólito e divertido durante a caminhada foi o ataque que sofremos por parte de um cavalo selvagem, que assustado pela nossa presença, decidiu galopar ferozmente na nossa direcção... Era ver o pessoal a saltar disparado para fora do trilho...
De volta à estalagem, jantámos e fomos todos dormir.
Dia 2 - Cumeadas do Piornal e Mosteiro de Yuste
Dormir é uma maneira de dizer, porque não preguei olho a noite inteira, nem os tampões me safaram. Talvez por estar mais cansado, o meu colega de quarto aumentou a intensidade do seu ressonar, ao ponto do pessoal dos quartos adjacentes também se queixarem. Imaginem eu que estava a 2 metros. Mas por outro lado não me posso qeixar, tinha sido avisado disso em Lisboa, mas a solução seria pagar um suplemento individual que achei demasiado caro. A minha resposta na altura foi "Pra não pagar esse valor, até dormia com um rinoceronte". Para a próxima penso duas vezes antes de me armar em forreta...
O percurso neste 2º dia foi muito diferente do anterior, através das cumeadas dos montes junto da estalagem, com altitudes entre os 500 e 1500m. Paisagem mais árida, fazendo lembrar Montejunto, e com muitas cerejeiras em flor. Ao contrário do dia anterior, cujos trilhos estão bem identificados, o percurso aqui faz-se por caminhos inexistentes (ou quase), que conferem outra beleza e espírito de aventura à caminhada. Descidas íngremes, travessias de cursos de água e mato expesso foram alguns dos obstáculos a superar.
Descansando junto ao leito de uma pequena cascata para almoçar, um dos caminheiros descobriu um intruso a tentar infiltrar-se na sua pele, era uma carraça à procura de sangue portugues. Enquanto observávamos a luta titanica entre o homem e o verme, outra carraça foi descoberta noutro participante. Gerou-se o pânico, era ver o pessoal num auto-catanço minucioso... Mas à primeira vista o resto do pessoal não foi atacado.
O resto do passeio correu sem mais sobressaltos, apenas uma descida de um monte que pos a prova a habilidade dos participantes. Após o passeio seguiu-se uma visita guiada ao Mosteiro de Yuste, onde no séc. XVI o imperador romano Carlos V foi levado para viver o resto da sua vida após abdicar do trono espanhol. Seguiu-se para alguns, porque eu e mais 3 decidimos que depois de 20km a andar apetecia mais ir beber uma cervejinha do que aturar um espanhol qualquer a contar-nos a historia do mosteiro. Essa cervejinha foi bebida numa terrinha próxima chamada Garganta La Olla, muito bonita, com casas do séc. XVI e as suas varandas floridas e cheias de cabaças.
Chegados à estalagem próximo da hora de jantar, tempo para um duche rápido e no meu caso para mudar de quarto. Esta noite tinha de dormir. O tempo neste 2º dia esteve excelente, com um sol radioso e quente, o que me valeu um belo de um escaldão, pareço uma lagosta...
Dia 3 - Parque Natural de Monfrague e Regresso a Lisboa
Ao fim de 2 dias sem dormir, esta última noite foi maravilhosa pois finalmente consegui dormir decentemente, mas soube a pouco, a muito pouco. Dia de arrumar as trouxas e voltar a Portugal, mas só a tarde, pois de manhã estava destinado um passeio no Parque Natural de Monfrague.
Este parque, atravessado pelo nosso rio Tejo é um dos tesouros mais importantes da península ibérica a nível de fauna. Aqui encontra-se a maior comunidade mundial de águias imperiais e de abutres imperiais, bem como um dos poucos sítios onde ainda existem linces ibéricos. Contém ainda uma fortaleza a quase 600m de altura, com uma vista 360º sobre a região da Extremadura espanhola, e que na época medieval deve ter sido uma bela ajuda para proteger estas terras dos possíveis ataques inimigos.
Passeio pequeno, de cerca de 4 horas, para apreciar a paisagem e ver as aves bem como 2 gamos que nos apareceram ao caminho. Paisagem algo diferente da anterior, com matos expessos, e terreno xistoso, próximo do que podemos ver em algumas partes da beira baixa portuguesa. O passeio foi pequeno mas mesmo assim duro, com as subidas mais íngremes dos 3 dias.
Por volta das 15h, fim do passeio e hora de regressar a Portugal... Com pena, era capaz de me habituar a isto... Viagem sob um calor intenso, mas rápida e sem trânsito. Até o meu carro parece que lhe passou a manha... Chegado a casa, quero descanso pra amanha voltar a vidinha...
Início de viagem atribulado. Já não bastava a chuva torrencial que caía em Lisboa, cheguei à conclusão que o meu carro não anda bem de saúde e tem pouca vontade de debitar os 110cv que o motor diz que tem. Lá tive de fazer a viagem toda dentro dos limites de velocidade legais, o que é uma valente seca.
Isto de dormir pouco, acordar e fazer a mala não costuma dar muito bom resultado, e foi o que aconteceu. Para piorar, enquanto pensava nas coisas que me tinha esquecido (cantil, pilhas para o GPS, indicações do caminho), e porque o piloto automático está habituado a fazer o caminho Lisboa-Algarve, reparei numa placa com a próxima saída a indicar Alcácer do Sal. Umas breves contas de cabeça e concluí que a saída para a A6 para Espanha já tinha passado. Solução: Voltar para trás ou cortar caminho indo pela Nacional até Montemor-o-Novo... Escolhi a segunda opção, o que me providenciou uma paisagem mais bonita mas deixou de seca o João que estava à minha espera em Caia.
Chegado a Caia com 1h de atraso lá me encontrei com o João, um alentejano de Beja que me iria dar boleia o resto do caminho. Já o conhecia de vista de outras caminhadas, mas nunca tinha falado com ele... Bastante simpático e divertido. O resto do caminho até à estalagem onde seria a base das caminhadas do fds correu sem problemas, passámos por Cáceres para comprar alguma comida e parámos em Plasencia para dar uma volta. Plasencia é uma cidade agradável, com uma bonita catedral e um conjunto de igrejas e palacetes do sec. XVI, e com uma bonita Plaza Mayor onde bebemos uma cerveja na esplanada.
Chegados à estalagem "La Serrana" em Piornal, conhecemos durante o jantar o resto do pessoal que nos iria acompanhar, ou melhor, no meu caso foi um reencontro, já que conhecia a maior parte do pessoal. Por estas alturas o tempo tinha aberto um pouco, apesar de ainda estar bastante nublado. As previsões para o dia seguinte não eram muito boas, previa-se um fds molhado.
Dia 1 - Reserva Natural "Garganta del Infierno"
Depois de uma noite mal dormida, muito por culpa de uma cama horrível com uma almofada muito alta que me deu cabo do pescoço, mas também devido ao meu colega de quarto, que ressonava ruidosamente (Crinas e Jé, estão perdoados!), tomámos o pequeno-almoço e fizémos o transfer de carro até ao centro de interpretação ambiental do parque natural.
O centro de interpretação está muito bem cuidado e fornece inúmera informação sobre as características do parque e as actividades que lá podemos fazer. É uma vergonha que Portugal esteja tão sub-desenvolvido a este nível, cá o eco-turismo não tem valor, o que interessa é campos de golfe e hotéis em cima da praia. E mais interessante ainda é o conjunto de famílias que vão desfrutar e passar um dia agradável nestes locais.
Começamos então a caminhada, um percurso de cerca de 15km através do Vale do rio Jerte, uma paisagem linda, cheia de água e vegetação verde, através de um percurso exigente, com muitas pedras a dificultar a progressão. A paisagem é tão bonita que em certas partes me lembrou a Patagónia, com as respectivas limitações. O céu estava nublado, mas não choveu e deu para fazer o percurso quase sempre de manga curta. Os receios de chuva não se concretizaram, o que foi excelente.
A progressão era lenta, devido ao terreno acidentado, à inexperiência de alguns dos caminhantes, mas principalmente ao desejo dos participantes disfrutarem da paisagem. Com a minha impaciencia caracteristica, e porque o guia já me conhece e sabe que tenho alguma experiência nisto, acelerei um pouco o passo de modo a disfrutar da caminhada. Fui seguido por o Jorge, um tripeiro que tal como eu tava um pouco aborrecido do passo de caracol. A caminhada prosseguiu até a vila de Jerte, onde terminou por volta das 17h e onde descansámos bebendo um caña numa esplanada.
Insólito e divertido durante a caminhada foi o ataque que sofremos por parte de um cavalo selvagem, que assustado pela nossa presença, decidiu galopar ferozmente na nossa direcção... Era ver o pessoal a saltar disparado para fora do trilho...
De volta à estalagem, jantámos e fomos todos dormir.
Dia 2 - Cumeadas do Piornal e Mosteiro de Yuste
Dormir é uma maneira de dizer, porque não preguei olho a noite inteira, nem os tampões me safaram. Talvez por estar mais cansado, o meu colega de quarto aumentou a intensidade do seu ressonar, ao ponto do pessoal dos quartos adjacentes também se queixarem. Imaginem eu que estava a 2 metros. Mas por outro lado não me posso qeixar, tinha sido avisado disso em Lisboa, mas a solução seria pagar um suplemento individual que achei demasiado caro. A minha resposta na altura foi "Pra não pagar esse valor, até dormia com um rinoceronte". Para a próxima penso duas vezes antes de me armar em forreta...
O percurso neste 2º dia foi muito diferente do anterior, através das cumeadas dos montes junto da estalagem, com altitudes entre os 500 e 1500m. Paisagem mais árida, fazendo lembrar Montejunto, e com muitas cerejeiras em flor. Ao contrário do dia anterior, cujos trilhos estão bem identificados, o percurso aqui faz-se por caminhos inexistentes (ou quase), que conferem outra beleza e espírito de aventura à caminhada. Descidas íngremes, travessias de cursos de água e mato expesso foram alguns dos obstáculos a superar.
Descansando junto ao leito de uma pequena cascata para almoçar, um dos caminheiros descobriu um intruso a tentar infiltrar-se na sua pele, era uma carraça à procura de sangue portugues. Enquanto observávamos a luta titanica entre o homem e o verme, outra carraça foi descoberta noutro participante. Gerou-se o pânico, era ver o pessoal num auto-catanço minucioso... Mas à primeira vista o resto do pessoal não foi atacado.
O resto do passeio correu sem mais sobressaltos, apenas uma descida de um monte que pos a prova a habilidade dos participantes. Após o passeio seguiu-se uma visita guiada ao Mosteiro de Yuste, onde no séc. XVI o imperador romano Carlos V foi levado para viver o resto da sua vida após abdicar do trono espanhol. Seguiu-se para alguns, porque eu e mais 3 decidimos que depois de 20km a andar apetecia mais ir beber uma cervejinha do que aturar um espanhol qualquer a contar-nos a historia do mosteiro. Essa cervejinha foi bebida numa terrinha próxima chamada Garganta La Olla, muito bonita, com casas do séc. XVI e as suas varandas floridas e cheias de cabaças.
Chegados à estalagem próximo da hora de jantar, tempo para um duche rápido e no meu caso para mudar de quarto. Esta noite tinha de dormir. O tempo neste 2º dia esteve excelente, com um sol radioso e quente, o que me valeu um belo de um escaldão, pareço uma lagosta...
Dia 3 - Parque Natural de Monfrague e Regresso a Lisboa
Ao fim de 2 dias sem dormir, esta última noite foi maravilhosa pois finalmente consegui dormir decentemente, mas soube a pouco, a muito pouco. Dia de arrumar as trouxas e voltar a Portugal, mas só a tarde, pois de manhã estava destinado um passeio no Parque Natural de Monfrague.
Este parque, atravessado pelo nosso rio Tejo é um dos tesouros mais importantes da península ibérica a nível de fauna. Aqui encontra-se a maior comunidade mundial de águias imperiais e de abutres imperiais, bem como um dos poucos sítios onde ainda existem linces ibéricos. Contém ainda uma fortaleza a quase 600m de altura, com uma vista 360º sobre a região da Extremadura espanhola, e que na época medieval deve ter sido uma bela ajuda para proteger estas terras dos possíveis ataques inimigos.
Passeio pequeno, de cerca de 4 horas, para apreciar a paisagem e ver as aves bem como 2 gamos que nos apareceram ao caminho. Paisagem algo diferente da anterior, com matos expessos, e terreno xistoso, próximo do que podemos ver em algumas partes da beira baixa portuguesa. O passeio foi pequeno mas mesmo assim duro, com as subidas mais íngremes dos 3 dias.
Por volta das 15h, fim do passeio e hora de regressar a Portugal... Com pena, era capaz de me habituar a isto... Viagem sob um calor intenso, mas rápida e sem trânsito. Até o meu carro parece que lhe passou a manha... Chegado a casa, quero descanso pra amanha voltar a vidinha...